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Mostrando postagens de 2021

Teu cheiro

  Hoje eu percebi o quão difícil é ter que lidar com algumas coisas, algumas faltas. A falta do lado vazio do sofá. Do lado confortável da cama. De não o apoio nos teus ombros. E do teu cheiro. E se fosse só sobre o teu cheiro, talvez seria tudo mais fácil, não seria? E se você só tivesse apenas um cheiro, talvez seria mais fácil ainda. Mas o problema é que a gente nunca consegue definir essa sensação. Seja o teu perfume, o gosto dos teus lábios, a forma como você aperta minha mão ou a forma como seu olhar se perde quando a gente se despede - eu fico muito fácil perdido tentando recriar memórias que não vão voltar, da mesma forma que fico contando com o calendário quando vamos criar as próximas. Eu fico perdido. Totalmente perdido. Eu gosto dessa sensação, se não quero chegar a lugar algum, qualquer lugar será perfeito né? Desde que bom... Eu te leve comigo, seja num bloco de notas, ou numa memória, de preferência nos braços, mas qualquer uma dessas já me deixa mais confortável. Se...

Nascido para cidade.

  Eu nasci na cidade. Não na metrópole, não em São Paulo, nem no Rio, muito menos em Floripa, nem em Fortaleza. Nasci na cidade sou pra cidade. Não cidade grande, mas a do interior.  Não sei o que é pegar um ônibus lotado (a cidade aqui não tem nem empresa de ônibus), mas também não sei tirar leite de vaca. Nunca, nem de perto, vi um metrô, mas com muito pensar, pesar e dificuldade, consigo plantar um pé de alface num canto de casa. Nasci na cidade e pra cidade, para ser engolido pela urbe e todas as suas ruas e bairros vazios. Garoto de condomínio, nike no pé e no peito, pivete que não se viraria um dia num subúrbio, num bairro de periferia, que não sabe se virar sozinho. Anda de Uber, não de Taxi, nem de ônibus. Marmita é tipo uma aventura, pois o self-service sempre esteve disponível. Desculpa por começar outro texto de forma melancólica ou angustiante, é meu jeitinho. 10/08/2021 eu descobri que na verdade, eu não nasci tão bem assim para a cidade grande, mas quem...

Outro poema.

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"Outro poema", por Kaue Cadene, feito em 10/10/2021. Sobre existir e pós-modernidade rápida. Eu não sei dizer se é isso que eu espero; Fazer poemas todas as noites; Em que a chuva; Cai lá fora; Mas eu estou pegando leve comigo; Cada gota é como um acorde do violão; A gente espera outra, e mais outra;  Estou pegando leve comigo; Pois sei que terão outras tempestades que não me deixarão dormir; E que também não me deixarão escrever; Mas eu prometo que talvez; Quando estiver menos niilista; Eu olhe pela janela; E faça poesia da chuva; Mas enquanto esse dia não chegar; Vou reclamar, em poemas, de como esse dia está distante; E vou pegando leve comigo; Versos por versos; Estrofes por estrofes; Noite por noite; Gota por gota; Os meses tem passado depressa; Assim como a chuva numa noite;  Num momento você pisca; No outro já é dia; Em uma noite você está bêbado; Deitado no chão da sala;  Enquanto espera declarações de amor; E na outra; A barba já cresce;  Voce já não bebe; V...

Bar de Cidade Pequena.

Um poema escrito por Kaue Cadene, repensando "Tabacaria" de Álvaro Campos (vulgo Fernando Pessoa), só que, neste século e nesta cidade.  Me sento na sacada do apartamento; A rua é escura; Os de minha idade festejam no estacionamento, com som no carro; Garrafas de Vodka, Whisky e Gin; Abraçados, os manos, sem minas; Com bons raps na caixa, mas poucas ideias na cabeça; A rua é movimentada de um lado, escassa do outro; O bar lotado mais adiante, com algumas luzes que se jogam ao céu noturno; Contém Pessoas paradas na entrada, fumando; Que sou de mim;  Apenas observador de vida? Em noites escuras? Distantes?  O celular com convites que não tive disposição de ir, pois não reuni vontade, o desânimo do trabalho já me roubara toda;  Nem Whiskys, nem Cigarros, somente um estômago vazio numa noite de Primavera, numa sacada escura, de uma rua chamada Getúlio Vargas, de uma cidade pequena, de um país em crescimento; Olho o relógio, de que me importam as horas?  São vinte du...

Minimalismo, um manifesto.

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 Música para leitura:  Silent Flight, Sleeping Dawn - MONO Minimalismo, um manifesto. Mínimos, pois somos pequenos e insignificantes perante o universo, e nesta tanta insignificância, não gastaremos nosso tempo com coisas supérfluas e irrelevantes. Mínimo, pois queremos minimizar os impactos negativos nas nossas vidas. Mínimo, pois queremos minimizar os grilhões da sociedade e libertar nossas almas para o que realmente desejamos criar: Nós mesmos. Minimalistas, pois queremos maximizar os afetos, os desejos, os objetivos e os sonhos, e lutar por esses sonhos, crer arduamente nestes sonhos, com a capacidade de realiza-los, e não os manipular ou ser manipulado por eles. Queremos expandir nosso espaço, dançarmos nos quartos, já sem entulhos, nos olharmos no espelho, encarar-nos no fundo dos olhos e gritarmos para todos ouvirem aquela felicidade de finalmente estarmos confortáveis com nós mesmos. De termos espaço fora de uma sociedade do consumo que nos enjaula, de todo quarto va...

Um dia talvez [isso] te envenene.

[Dezembro de 2019]; Bem na virada de um ano atípico, eu me olhava no espelho e tinha uma sensação que, na época eu não soube explicar. Hoje, talvez saiba. Me olhei no reflexo, o olho verde parecia perdido, mesmo focado em mim mesmo. Ele procurava alguma coisa, ele procurava. Ele me procurava. Não me sentia confortável. Um passo da faculdade, do trabalho. De costas para os massacrantes anos da des-autoestima escolar. Livre de que? Livre de anos de escola que me preparavam para o que mais desejava: A faculdade. Um passo dos meus sonhos. E esses passos viraram uma escada, e essa escada virou uma esquina, que virou uma rua, que virou uma rodovia e o sonho ficava distante. Mesmo na distância, ele ficava na intensidade, no desejo, ele estava ali, eu queria viver isso. EU PRECISAVA viver. Sonho, faculdade, sonho, bom emprego. Sonho, ajudar pessoas. Sonho.   Olhei-me no espelho outras mil vezes nesse processo, na verdade, umas duas, três mil vezes nesse tempo, talvez mais, n...

O sentir e a tormenta

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De uma alma cansada para uma alma cansada; Sentimento; ação de sentir, de perceber através dos sentidos, de ser sensível, capacidade de deixar impressionar, comover. Emoção. Tormenta; sofrimento exagerado, em que há muita aflição, agonia, amargura, excesso de coisas ruins, conjunto de situações catastróficas. Atormento. Oi, meu nome é Kaue e eu tenho total certeza de que se eu te pedir o que é um sentimento, você não vai saber definir sem antes gaguejar, sem pensar bem, mudar a explicação na metade do caminho e ainda assim não vai ter uma solução para a minha pergunta. Mas, ironicamente, você sente que sabe o que é, não sente? Então... Eu sei que você está se sentindo meio cansado ultimamente, eu também estou, mas nenhum de nós sabe do que é, não é mesmo? É tipo explicar... Sabe? É sem ter certeza, mas saber que está ali. Culpar uma pandemia, mas com o medo que se estenda para além de uma vacina, para além de um dia ruim, para além de tempos conturbados. Esse texto é sobre de...