Complicado
Falar sobre isso é complicado.
Falar sobre tudo é complicado.
Falar qualquer coisa já é bem complicado por si.
Falar é complicado.
Ando pensando que tem tanta coisa guardada no peito, de uma raiva explosiva, que somente um divã na análise não é suficiente, levaria meu analista à força e provavelmente seu consultório à combustão.
Espantei-me como não tinha me espantado já há décadas, o medo de perder se materializou em minha frente, não tive saudades e já não o via há pelo menos uma década. Culpa minha, que herdei de minha família a genética do “não-medo-da-morte”, que já não sei em que cromossomo se localiza, mas com certeza veio de algum erro genético, pois é inatural e insalubre até para mim. Tive medo de perdê-lo uma vez e agora o medo está de mãos dadas comigo andando nas ruas, nas palavras e nos trechos falando “Está tudo bem com a minha presença por aqui, é normal”. E puta merda! É natural mesmo!
Minha ansiedade perdeu as contas de quantas paranóias inventou nestas últimas 168 horas. Culpa dessa bendita herança genética que hoje sumiu, como se tivessem achado a cura. Tive medo. Hoje tive medo de perder meu amigo. Porque justo ele quando outros mil já caíram, pela direita, pela esquerda e pela frente? Justo agora? No momento que mais precisava.
É muito mais complexo do que coerente, quanto mais tentamos falar, menos sentido as coisas fazem, seja pela fala, seja pelo papel, seja pelo teclado, o medo irracional que nos corrói quando nos deparamos com nossa insignificância de vida. Em um momento somos uma folha nutrida pela árvore de vida, no próximo, estamos deixando-a para trás, com o vento viramos paisagem, viramos a cena e a saudade. É isto que torna o absurdo ainda mais medonho.
No livro “O que é morte” de José Luiz de Souza Maranhão, o autor busca, além de fazer uma arqueologia de como a morte é vista ao longo das eras e suas transformações, trazer a opinião de autores, principalmente existencialistas. Sartre é parafraseando em suas páginas e há uma situação bem interessante. Para o autor, a vida é um absurdo, pois não escolhemos nascer, somos largados no mundo e temos que lidar com isto, assim também a morte, mil vezes mais absurda, pois de uma hora para a outra, a vida se esvai. Por exemplo, é como se um prisioneiro estivesse para ser executado, preparasse um discurso incrível, entretanto dois dias antes, morresse de gripe. Isto é a vida e junto dela, a morte.
Complicado é isto: ainda eu, que sou largado no mundo, posso ser ceifado do mundo, vejo meus amigos largados para o mundo, podendo ser ceifados do mundo, ainda sim preciso estudar autores para que esta angústia seja compreensível, não menor, mas simplesmente compreensível.
Saudades quando a vida não precisava ter sentido.
Talvez precisava mesmo era ter medo.
Comentários
Postar um comentário