Bulimia - O mal vem de dentro.


(Comentários que fiz depois de terminar o artigo):
Sim, ficou grande pra caramba, então mesmo que você não queira ler, gostaria de pedir do fundo do coração que compartilhe até chegar em alguém que precisa, eu agradeceria demais, e quando tiver um tempo vago sem fazer nada, volta aqui e da uma olhada <33. Eu dividi tudo em tópicos, talvez ajude, caso você queira só ler uma parte.
Coloque uma música tranquila, sente num lugar confortável e vamos para o texto.

Bulimia – O mal vem de dentro.

Dessa vez eu tenho que começar um texto de uma forma diferente e talvez um pouco mais corrido. Então, Oi, meu nome é Kaue. Eu tive episódios de Bulimia (explico isso mais pra frente, de forma mais calma) por alguns momentos da minha vida, e então resolvi fazer um artigo com tudo que você precisa saber sobre o transtorno, como lidar ou como ajudar alguém que está passando por isso. Espero que de alguma forma minha experiência venha a ajudar de alguma forma. Lembrando: há inúmeras formas de lidar com nossos problemas, então este é apenas meu pequeno ponto de vista. Deixarei logo a seguir só dois pequenos avisos para pessoas que estão passando com problemas e transtornos parecidos.
Caso haja algum problema relacionado na sua vida, procure um psicólogo, você merece esse cuidado e você é perfeito da sua forma, mas toda ajuda é sempre bem vida. Dê esse tempo para você mesmo.
O CVV (Centro de Valorização da Vida) realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntariamente e gratuitamente todas as pessoas que precisam ou querem conversar, sob total sigilo pelo telefone ou por chat online. É como uma web-consulta com um voluntário que dedica seu tempo e boa vontade para tentar ajudá-lo com seu problema. Caso precisar, não tenha medo: O número é 188 ou pode ser acessado pelo site: https://www.cvv.org.br/
Centro de Valorização da Vida, se valorize também, você merece. Não precisa ter vergonha. Mesmo que não tenha certeza se realmente precisa de ajuda, não precisa ter receio de entrar em contato, um voluntário sempre estará à disposição.
Acho que fui meio breve, mas o CVV é realmente muito importante e deve ser divulgado com mais frequência. Obrigado a todos os envolvidos.

Enfim, sem enrolar mais muito, este post vai ser realizado nos seguintes tópicos:
1 - O que é a Bulimia.
2 – Minha experiência pessoal.
3 – Como lidar com ela, de passo a passo.
4 – Como lidar com um ente querido próximo com o transtorno.
5 – Considerações finais.
Sinta-se livre pra pular qualquer um deles, eu só precisava contar minha experiência pessoal pra dar introdução em processo de como eu lidei ou como eu vejo que é possível lidar com o transtorno. É um depoimento um pouco extenso, porém, é descartável, mas conta todo o meu processo de aceitação e até o momento em que contei os fatos para os meus pais, em detalhes e cores. Só dando nota: Eu demorei muito mais tempo pra procurar ajuda profissional do que eu deveria ter feito.

1 – O que é bulimia?

A Bulimia é um transtorno alimentar que é caracterizado por períodos de fadiga seguidos por comportamentos compulsivos para a perda de peso de forma rápida. Entre estes métodos, estão: Abuso de cafeína, uso de cocaína, vômitos, excesso de exercícios físicos, dietas inadequadas, uso de diuréticos, estimulantes, jejuns, etc. Apesar disso, a maior parte das pessoas com bulimia tem peso corporal normal, mas por inúmeros fatores, acabam forçando tais comportamentos por não se identificarem ou não se contentarem com seu estado corporal atual, ou por estresses psicológicos, ansiedade, depressão, alcoolismo e outras dezenas de problemas que podem contribuir para a insatisfação pessoal e a falta de autoestima geradas por uma pressão social.
Há um ponto importante que eu devo ressaltar que é: Ansiedade e pressão social são fatores extremamente importantes para serem analisados no caso da Bulimia, afinal, a busca por métodos para a perca de peso estão diretamente relacionados com o fato que há um padrão social e pessoas que estão nervosas por não se encaixarem nele, e por causa disso, acabam ultrapassando o limite do corpo em uma busca incansável por um bem-estar socialmente criado.
Entre os problemas, além de todos esses citados e os que você pode presumir e dos inúmeros fatores que já conhecemos, cabe lembrar que o percentual de risco estimado atribuível a fatores genéticos está entre 30% a 80%. É um número considerável.
Não quero que esta parte do artigo seja uma palestra científica, queria tornar isso tudo o mais humano possível para não haver o sentimento de exclusão, então, aqui vão as possíveis consequências da Bulimia.

Consequências Físicas da Bulimia:

Ø     Problemas nos dentes e gengivas;
Ø     Desidratação
Ø     Fadiga
Ø     Ressecamento da pele
Ø     Arritmia Cardíaca
Ø     Irregularidade ou perda da menstruação
Ø     Obstipação
Ø     Dificuldades para engolir
Ø     Fraqueza e dificuldade em realizar tarefas básicas

Consequências Mentais da Bulimia:

Ø     Humor depressivo e variável;
Ø     Baixa autoestima
Ø     Ansiedade elevada
Ø     Perfeccionismo
Ø     Hiper determinação para perca compulsiva, como se fosse uma meta
Ø     Dificuldade de reconhecer formas saudáveis de obter prazer e satisfação
Ø     Exigência gigantescas com o próprio corpo ou a própria visão
Ø     Medo da opinião alheia
Ø     Insuficiência e Insatisfação pessoal
Ø     Perca de referências pessoais
Nisto, cabe a mim somente concluir que a bulimia também possuí um fator de morte, seja pela desnutrição ou por agravar outros problemas com o próprio corpo, e apesar dos números não serem tão abrangentes para a maioria das pessoas, considerar que de 2% a 3% das mulheres enfrentam esta condição em algum momento de suas vidas é extremamente preocupante.

2 – Minha experiência pessoal.

Eu jamais diria que eu tinha bulimia, na real, eu levei por muito tempo como uma “vontade gigantesca de vomitar a todos os momentos” como uma justificativa da minha ansiedade. E não, eu jamais pensei que eu tinha bulimia. Foi quando eu estava navegando em grupos do Reddit e em outros grupos dentro da internet e comentando sobre tudo que estava acontecendo comigo (anonimamente, porque na época eu morria de vergonha de mim mesmo) que uma das pessoas (que eu já não lembro o nome, perdão do fundo da minha alma, mas você vai estar sempre no meu coração por isso) enviou pra mim um artigo sobre o Transtorno de Bulimia Nervosa, com os comentários como: “Ei meu chapa, você está com alguma coisa muito parecida com o que esse site está dizendo, eu tomaria cuidado” e “Vai com calma, isso não é tão frequente, mas acontece”.
E isso, de alguma form,a foi libertador, mas vamos começar pelo início, não pela fase da descoberta da minha bulimia.
Eu falei pra você, ali em cima, um dado sobre as mulheres, que pelo menos 2% a 3% delas enfrentam esta condição em algum momento da sua vida, mas jamais comentei algo sobre o sexo masculino, por quê? O simples fato: A sociedade machista está elegantemente (urgh) estruturada de uma forma que a preocupação estética e corporal é uma necessidade (e obrigação) somente feminina, e o homem é um mero fruto do acaso que vai ter que criticar, aceitar ou recusar qualquer um desses padrões e necessidades conforme julgar cabível.
Terrível né?
Então entra outro ponto: Além dessa opinião totalmente destrutiva para a mente feminina, que torna elas um mero produto de estética, visualização e consumo para homens (que não é meu lugar de fala, mas minha empatia vê que é necessário comentar o quão prejudicial essa pressão pode ser para mulheres em geral), há o fato que homens que não se adequam no padrão masculino (ou machista, chame como preferir) tendem a entrar em problemas psicológicos por não saberem lidar com sua “fuga de padrão”. E não estou falando de questão de sexualidade, muitas revistas, sites e programas já tentaram retratar “o homem do século 21” como alguém mais introspectivo, demonstrativo e compreensível do que os “machões durões” de décadas passadas. Isso é abordado em tantos lugares que eu não consigo listar aqui, mas mesmo assim, há sempre uma visão ridícula (que anda reduzindo, graças aos bons corações) que o homem é um ser extremamente frio, com desejos incontroláveis que precisam ser saciados a todo custo, numa necessidade de embriaguez e barbaridade que reserva a delicadeza e bons modos somente para o público feminino ou para o público LGBTQIA+, o homem que não se adequa nesses padrões é visualizado como possuidor de certos problemas ou diferenças que o afastam da condição de homem e o aproximam da feminilidade. (E nisso, quero comentar duas coisas: A noção do que seria adequado ao feminino ou ao masculino é uma tolice gigantesca, criada socialmente; e outra: Não tem problema nenhum não se comportar como a grande massa, mas eu não pensava assim, felizmente mudei, dou graças aos deuses por terem me julgado com um comportamento feminino, porque eu, de forma nenhuma, gostaria de ser chamado de másculo quando o resumo de masculinidade é grosseria e violência).
Terrível, né?
E o porquê de eu estar aqui falando nisso? Meu problema se deu exatamente neste contexto.
Eu me sentia estranho demais comigo mesmo, não me achava atrativo, não sou um garoto que gosta de esportes, procurei a poesia neste lugar, procurei livros, e com essas e outras eu fugi 1000% do que as pessoas diziam na época que era um “comportamento masculino”, meu principal medo nem era com comentários neste estilo, mas com o fato que eu realmente me achava estranho (Me perdoe, minha mentalidade da época era abalada por ansiedade e picos depressivos que não viam a tolice de minhas atitudes), eu realmente observava que poucos ou quase nenhum garoto que eu tinha como amigo se interessava nos mesmos assuntos que eu, e não foi nenhum problema pra mim buscar amizade com mulheres (que, por estereótipo, tendem a gostar mais destes assuntos), e firmei boas amizades deste lado.
Mas então, veio o pior:
Com o desenvolvimento desse lado que, apesar de ter boas amizades e bons contextos, eu comecei a pensar se não havia nada de errado comigo mesmo, minha falta de um objetivo prazeroso e a criação de uma subjetividade totalmente privada do que as pessoas esperavam quando me conheciam pela primeira vez: Eu não gostava de esportes, não gostava de bebida, gostava de plantas, de poesias, de músicas que retratavam o amor, de escolas literárias.
Na entrada do ensino médio, quando minha sala de aula duplicou a quantidade de pessoas, e eu me sentia ainda mais reprimido por me sentir estranho, vendo pessoas que eram moralmente muito mais construídas que eu, muito mais bonitas que eu, muito mais determinadas num padrão que eu não conseguia me encaixar, eu perdia totalmente minha noção e acabei me entregando num pensamento de “Sim eles te acham estranho porque você tem uma aparência e comportamento repulsivos, precisa tomar uma providência o mais rápido possível e se mudar, se não vai continuar sendo estranho. Seu corpo é feio, você é uma tábua, você não tem nem um músculo no seu braço e teu cabelo de emo é extremamente desconfortante”.
E então, eu comecei a ter picos tão gigantescos de ansiedade que eu começava a vomitar, seja no meio da aula, em casa, no meio da noite, em qualquer um desses momentos. Eu realmente achava que tinha algo diferente, por ser frágil demais pra me aceitar.
Nisso, eu comentei com um único amigo meu, que na época morava em Brasília, e eu realmente só confiava nele pra isso, porque de alguma forma ele não estava perto o suficiente pra julgar minhas ações.
Quando comentei que andava vomitando por causa de todos estes fatos, a resposta dele foi o que fez me fechar ainda mais em todas as ideias:
“Ué, mas isso não acontece só com mulheres?”
E qual é o pior problema dessa frase? Além do fato de ela ser extremamente misógina e machista?
Ele não tentou em momento algum resolver ou se quer entender o problema.
Então eu tinha minha resposta: Sim eu era estranho e sim eu tinha um problema que ninguém podia me ajudar porque eu sou o primeiro homem hétero do mundo com bulimia e eu provavelmente sou uma aberração.
Perdoe meu exagero, mas na minha mente as paranoias cresceram assim, não exatamente com essas palavras.
Então eu comecei a ficar ansioso fora de casa, e depois comecei a ficar ansioso dentro de casa, vomitava antes de apresentações, vomitava quando tinha que ser algum foco de apresentação em trabalhos, começava a me sentir enjoado depois de comer, começava a ver uma necessidade de regurgitar após refeições, comecei a ter ainda mais medo de engordar quando ouvia pessoas comentando ou até mesmo zombando do sobrepeso, comecei a procurar, irreversivelmente, formas de me encaixar num padrão que eu nem mesmo gostava (e eu nem procurei o caminho certo).
Então, você me pergunta: Por que eu nunca mais falei pra ninguém? Ou até mesmo: Como ninguém descobriu?
A questão é, que quando comecei a sentir alívio com regurgitar (acho que isso é um geral de todos que sofrem com isso), nós (eu e os outros bulimicos) realmente acreditamos que estamos no controle, que só vai acontecer as vezes quando precisamos de um alívio necessário pra nos sentir bem.  E então, jogamos o mapa fora e nos entregamos totalmente ao escuro, porque não temos controle, começamos a nos perder e nos entregar ao vício, porque a única cura para aquela ansiedade era um banheiro longe dos ouvidos de todos (É como um apego a remédios ou qualquer outra coisa, só que vem de dentro pra fora).
E, respondendo à segunda pergunta, eu realmente conseguia arquitetar tudo. Ligar o chuveiro e fingir tomar um banho, colocar música alta, aproveitar quando as pessoas estavam muito distraídas, usar a desculpa que: “não é algo que eu como com frequência então fiquei meio enjoado”, como se fosse a primeira e última vez. Funcionava, era fácil arquitetar esses planos, é bem fácil correr pro canteiro fingindo que vai jogar o lixo fora, enquanto se está jogando parte do teu bem estar junto.
E agora, voltamos para a parte do Reddit:
Quando eu comecei a perceber que eu estava me sentindo mais fraco que o normal (vomitando 5 vezes num dia quando havia uma apresentação da escola) com um mal hálito tão horrendo que nem um Demônio Colossal do sétimo nível do inferno ousaria a me beijar, que eu comecei a pesquisar anonimamente, entrar em grupos e fóruns de desabafos e transtornos, assim, de pouco em pouco, consegui ir vendo pessoas que estavam em situações semelhantes ou que já haviam passado por algo próximo. E eu te juro: a noção de que alguém pode se sentir como você está se sentindo é como um abraço quente num dia frio, faz toda a diferença.
Com silêncio, de pouco em pouco fui começando a me abrir melhor e interagir, postando o que eu sentia naqueles momentos em um fórum, e as poucas respostas que ganhei já me ajudaram a ter um ponto de partida melhor. Não, não era a única pessoa que sentia uma vontade irreversível de vomitar, e mesmo sem ter a perca de peso como um dos fatores principais para isso, havia sim um propósito naquilo tudo que era tão preocupante quanto.
E, muito obrigado pelas pessoas que eu não consigo lembrar o nome agora, mas vocês estão definitivamente dentro do meu peito. Sem a coragem de procurar ajuda profissional ou me abrir pras pessoas que eu tinha por perto, eu pelo menos achei algumas soluções juntos com vocês, e fui cautelosamente planejando melhoras e cuidando do meu bem estar (que mentalmente ficou fodido por mais uns dois anos, mas já era algo).
Então,  passo por passo eu fui pro fundo do poço e voltei escalando, sem ninguém perceber, e me fechei por isso como um fato que eu queria deletar da minha vida pra ninguém saber. E somente dois anos depois, quando eu realmente me sentia muito mais seguro (e, na real, com um certo medo disso voltar a acontecer) eu comecei a me abrir melhor sobre isso, que já parecia um pesadelo distante.

2.1 – Como contei pros meus pais?

Foi uma situação extremamente necessária, na real, foi em um momento que eu precisava colocar o que estava me frustrando (tanto na minha vida de vestibulando quanto na minha vida familiar), e com uma coragem e ajuda extracorpórea que me invadiu do nada (e que provavelmente nunca sentirei de novo), eu sentei na sala com eles e falei tudo que eu precisava. Choramos? Desaguamos três rios amazonas inteiros! Mas, pelo menos era algo que tirei de mim e foi o ponto de partida que eu precisava pra me abrir melhor disso. E a vergonha durou por um bom tempo, mas hoje não vejo mais isso tudo com vergonha, mas como um aprendizado (triste, porém necessário) para o meu desenvolvimento.
E junto disso, fui na psicóloga, que começou a acompanhar minha rotina de alimentação e também minha frequência de casos, se isso voltasse a acontecer.
Sem tantos receios, mas ainda trabalhando a autoestima e insuficiência que carrego comigo, hoje digo que todas as vezes que sinto vontade de correr e vomitar no banheiro são calmamente controladas com um tipo de “técnica” pessoal minha, então eu acalmo a ansiedade e essa vontade desgraçada de fazer merda. E enfim, há sempre o que trabalhar melhor em mim mesmo, só que agora eu posso fazer isso calmamente sem forçar nada.
Comentário do momento: Eu realmente não contei pra nenhum amigo por todo esse tempo, contive a vontade, e quando comecei a falar sobre isso, parecia um absurdo e nem todo mundo levou com seriedade, foi realmente uma coisa tipo “Eita, ta melhor? Que bom”. Não julgo eles, e também salve lembrar um negócio aqui, que é um lembrete geral: NÓS NÃO CONTAMOS POR NÃO CONFIAR EM VOCÊS, só mantemos isso em segredo por vergonha, por não querer preocupar ninguém. Por achar que temos o controle, mesmo depois de joga-lo pela janela. Não é nada pessoal, mas eu não quero que você se preocupe comigo, ou me ache louco, ou estranho.

2.2 – Quais foram as consequências pra mim?

Bom, isso depende muito do momento. Em umas apresentações da escola eu chegava a vomitar 5 vezes num dia, como cheguei a comentar, então vocês podem imaginar que eu me sentia extremamente fraco e cansado. E, principalmente nestes dias, eu posso falar que a ardência na garganta é uma coisa de outro mundo, me sinto um dragão que não consegue cuspir o fogo, porque é insuportável.
Em outros momentos, também tive um mal hálito tão terrível que eu me surpreendo que, na época, a minha namorada conseguia me beijar (É sério, nem um demônio que vive no tártaro sobreviveria). Pelo menos enxaguantes bucais e balas de fruta ajudavam, em parte. Nisso, também, eu comecei a ter os dentes MUITO amarelos, se você for comparar com eles agora, é uma diferença gigantesca que, mesmo sem entender, minha dentista sente muito orgulho, e eu também.
Algo que me assombra até hoje é o fato de que eu desenvolvi problemas pra engolir, chega em um momento da janta que eu preciso de algum líquido pra conseguir engolir, porque meio que meu corpo trava, eu não consigo colocar mais nada pra dentro, como se ele soubesse “Sim, já sei que você está se entupido e então vou te fazer parar pelo mal, se não foi pelo bem”. Então, meus companheiros, se um dias vocês me virem comendo enquanto seguro o copo na mão, é porque eu cheguei num ponto que não consigo engolir mais nada, mesmo ainda estando com fome (E eu posso te jurar que isso é agoniante, porque eu criei uma dependência, sem água eu me afogo ou engasgo, basicamente).
Por fim, eu comento que mesmo tendo 1,73 de altura, eu cheguei num pico de 49kg, o que é basicamente 14 – 16kg abaixo do índice necessário pro meu IMC (hoje, já me encontro com 56kg e estou na luta pra engordar um pouquinho mais), agora, pelo menos eu tenho certeza que não vou sabotar muito esses números.
Ah: Em consequências psicológicas: Eu sinto um extremo pânico de comer antes de eventos, comer em eventos ou até mesmo jantar fora, então é algo que eu tenho que trabalhar, porque pra mim, há uma coisa engraçada: Tudo certo fazer uma apresentação para mil pessoas em cima de um palco, mas pelo amor de Odin, não me faça um evento deste tamanho que haja comida, eu vou a loucura. Não me faça comer antes do palco e não me faça um jantar num lugar fechado com uma mesa cheia de pessoas me olhando.
E, realmente, eu tenho muito que cuidar com os lugares que vou jantar, eu geralmente procuro lugares ao ar livre que sejam bem agradáveis e que me acalmam, se não, eu me sinto extremamente tentado a sentir náuseas e tais vontades voltam.
E, enfim, eu consigo encerrar esse quadro.

3 – Como lidar com a Bulimia?

Sendo sincero, vou tentar abordar isso aqui como tópicos que me ajudaram a contornar alguns dos problemas, mas eu sempre recomendo: PROCURE AJUDA! Não fique calado, não coloque pra fora só o que te faz bem, coloque o que te deixa angustiado; No fim, tenha certeza que pelo menos uma pessoa vai te entender, eu te entendo.
Enfim, aqui vão eles:

3.1 – Estou comendo muito e já estou me culpando com isso.

Há! Vamos lá, isso aqui é muito variável e é de cada um: Você já tem a noção básica de que se alimenta bastante, mas que tal trocar a quantidade pela qualidade? Algo que te dê prazer, mas que tu saibas, com um pouco mais de convicção e consciência, que deve maneirar na dose, com pessoas ao lado te apoiando. Lembra que a comida não vai te fazer mal e ela não está contra você, ela vai te deixar forte, há muita vida nutrida em grãos, muito trabalho humano envolvido e as pessoas que produziram ele tem muita satisfação de que você goste de cada grama que você esteja comendo, mas isso tem que ser prazeroso pra você também, viu? Em muitos momentos da nossa vida a gente vai se desequilibrar e comer um pouco mais, ou um pouco menos, e ta tudo bem com isso também pois você não está estável 100% do tempo, se permita isso também, os processos não são eternos, mas aqui vão as minhas dicas, caso você já não está sabendo como parar tão bem:
Em vez de comprar as duas barras de chocolate, compre logo a mais cara e a que te da mais prazer, e então não vai ter como compra uma segunda, mas aquela única vai ser como o elixir da vida, a mais prazerosa ceia.
E, claro não é fácil lidar com isso, mas tendo a consciência da quantidade você já pode tentar maneirar no preparo de porções muito antes. Eu sempre comi muito, meus amigos sabem disso, mas resolvi encarar o fato de uma maneira mais tranquila: Enquanto eu podia comer 2 cachorros quentes, por que eu não comia só um? Mas com um pouco mais de batata palha e vinagrete? Não parece, mas os pequenos detalhes ajudam um pouco. Quem sabe, né?

3.2 – Não existe nada que um bom banho não resolva

E isso é verdade. TODA VEZ QUE VOCÊ SENTIR VONTADE DE VOMITAR, ignore a privada, passe direto por ela, vá para o box e ligue o chuveiro numa temperatura agradável. Relaxe, isso melhora 60% minha vontade, se não mais, e eu espero que isso melhore pra você.
Há, claro, uma explicação científica pra isso, como o relaxamento que você sente em um banho quente, mas o foco aqui é vencer teu inimigo, olhar na cara dele sem fazer nada, e então aproveitar os benefícios do outro lado da muralha.

3.3 – Não existe nada que um abraço não resolva.

Em outra explicação científica, há coisas que nos aliviam muito, então se você comentar o que está passando com uma pessoa próxima e ela te apoiar fielmente na melhora e na recuperação, ela provavelmente não vai te recusar um abraço, e isso realmente da um puta alívio. Eu não sei, é realmente mágico, aliviava bastante.

3.4 – Não encoste um dedo no seu celular.

Após qualquer refeição, faça tudo, menos abrir uma rede social. É basicamente a teoria do super estímulo (que vai ficar pra outro post) com o fato que as redes sociais despertam uma ansiedade corrosiva, principalmente pra quem já lida com problemas deste tipo, você vê pessoas fingindo ter vidas e momentos perfeitos, que te fazem cair em frustração, e isso te leva a remoer problemas seus, ou paranoias suas, que te fazem ficar ansioso, cair novamente em ansiedade e ficar frustrado.
Vá ler um livro, ouvir uma música, tocar um instrumento (rs), mas faça algo que te relaxe, não que te frustre.

3.5 – Pense menos do que você quer, sinta mais do que você pensa.

Eu penso rápido demais e as vezes me pego em um conflito de três pensamentos num monólogo meu, eu fico ansioso, paranoico, e então eu acabo ficando ainda mais ansioso. Pense leve, pegue leve. Tente sentir seu corpo, sentir tua respiração, aquelas técnicas de meditação que algumas pessoas amam, mas outras se irritam, sabe? Realmente tente sentir teu corpo como ele é, mas sem pensar muito e sem se julgar, sente que você está existindo, que está respirando, que vale a pena ter boas sensações.

3.6 – PSICÓLOGO!

Só pra lembrar, é sempre bom, vou lembrar sempre que eu conseguir...

3.7 – Mapeie o teu mal estar.

Se você sente que está comendo demais, ou que sente vontade de regurgitar só em alguns momentos, anote-os, mapeie-os. Saiba os momentos mais que deixam mal, os que mais te deixam ansioso e encare o porque disso acontecer (é bom não ignorar ou evitar completamente esses momentos, se forem lugares ou certas horas do dia, porque uma hora você pode achar que somente evitando-os que é possível ficar bem), assim você vai conseguir entender melhor o que deve fazer nessas situações.
No meu caso: Quando eu como fora? Eu tenho que comer 39012930981209 mais devagar e não ficar pensando que as pessoas estão me julgando a todo momento por comer igual um dragão.
Quando eu estou num lugar cheio de gente, eu tento comer menos, porque eu tenho total consciência que um pensamento assim vai ser inevitável, então eu tento dar um espaço maior entre as comidas (tipo em um evento que serve brigadeiros e salgados a noite inteira, um agora, outro daqui dez minutos, pode parecer angustiante esperar, mas melhor do que realmente passar mal).

3.8. Finalização.

Enfim, eu poderia falar muito mais, mas eu acho que cada pessoa consegue se adaptar de alguma forma, isso aqui não é uma formula mágica pra resolver seus problemas, então desculpe se você pode ter idealizado assim, mas leve isso como um ponto de partida, pequenas atitudes que, com muita ajuda e com conhecimento de si, podem fazer curvas pra sua mudança e assim engajar na diferença. Não esqueça, mantenha-se com uma alimentação saudável sobretudo, não é o fato de só se manter no peso, mas colesterol e outras substâncias precisam se manter equilibradas também, o que reforça ainda mais o meu argumento: Busque ajuda! Não é fácil! Cada corpo tem seu jeito de reagir e adaptar.

4 – Como ajudar uma pessoa próxima?

Bom, eu acho que eu posso fazer um resumão básico de tudo que falei, mas principalmente ao redor do sentimento de zelo, carinho e compreensão. Você não precisa entender as motivações para ajudar alguém com isso, mas saber o quão prejudicial tudo isso é já te ajuda em muita coisa.
Primeiro, provavelmente com tudo que você leu até aqui já deve imaginar que comentários sobre aparência e peso devem ser feitos com certa cautela e carinho, e o incentivo é uma parte essencial para qualquer tipo de reabilitação e atividade; então, quando você tem total noção da situação de alguém com bulimia, se mostrar disposto a realizar essas atividades é essencial. Menos comentários como “Você come igual um cavalo” ou “Caramba, mas tu mastiga rápido” (Este ultimo, particularmente, me deixava bem ansioso em qualquer refeição), comentários assim, se não forem aceitos como piada pela pessoa que sofre do transtorno (afinal, tem algumas pessoas que aceitam tipos de piada como forma de descontração, mas não é meu caso neste quesito), devem ser trocados por outro mais sutis, que podem / devem ser feitos em outros momentos: “Pode comer com calma que não temos nada pra fazer hoje” ou “Temos tempo, vai com calma”.
Cheguei a cronometrar o tempo que eu levava em uma refeição pra não ficar tão ansioso com isso, e as pessoas que estavam na mesa comigo agiram com certa normalidade (ou pelo menos fingiram), e este apoio é essencial.
Junto de tudo isso, trocar comentários sobre o peso como “Nossa você parece uma tábua de tão magro” ou “Claro que parece um elefante, olha o quanto que come” também seriam muito bem vindos, mas isso varia muito de pessoa em pessoa, pois para alguns, até um comentário sobre proferido com toda a cautela possível pode deixar um pouco de mágoa, mas, infelizmente, não podemos ter muito controle sobre isso, como você vai conhecer bem essa pessoa provavelmente vai ter uma noção do que falar, ou vai descobrir no processo, talvez perguntando, ou errando.
Coisas como “Você vai se sentir muito melhor se fizer esses exercícios ou talvez comer um pouco disso e disso, pode te ajudar bastante e acredito que vai te fazer bem” ou talvez “Olha, comer não vai te fazer mal, mas vamos fazer isso certinho juntos, quem sabe a gente consiga entrar na linha?” foram muito bem vindos pra mim, quem sabe possam te ajudar um pouco, não?
Por outro lado, as vezes você não precisa falar muita coisa, o fato deixar de falar já ajuda, comparativos entre pessoas são fatais nesse caso, fazer isso é quase um gatilho pra um mal estar imediato, uma crise de ansiedade ou uma possível crise de insuficiência, então, tente reservar isso para outros momentos.
Enfim, chego no final, já ignorando algumas partes como “Tente elevar a autoestima do seu companheiro”, que é uma obrigação nossa como bons amigos, namorados, companheiros, pais, filhos, avós, tios e cachorros, pra finalmente concluir que: Distraia.
Após refeições, algumas pessoas trancam o banheiro pra não deixar que os familiares regurgitem, mas isso são casos muito mais graves, e então a conduta com psicólogo é muito fundamental, mas, em vez de trancar o banheiro e não deixar ninguém entrar, por que vocês não se trancam no quarto e vêm um bom filme? Um video? Façam um cafuné bom ou talvez simplesmente jogar conversa fora. Tire o foco, tire os motivos de uma bulimia e toda a tensão que acompanha ela e transforme todo aquele processo em uma “preliminar de bem estar”. Ajuda mais do que qualquer outra coisa que você leu aqui. Nossa mente precisa de boas distrações que contribuam pro nosso bem, e pode ter certeza que a proximidade com alguém, espantando o sentimento de solidão, já ajuda mais do que qualquer outra coisa na vida.
Você não precisa usar capa pra ser um herói, as vezes é só deixar alguém de boca fechada.

5 – Agradecimentos.

Se você leu tudo, provavelmente deve ter notado que o artigo ficou GIGANTESCO, e desculpa por isso, eu tentei deixar o mais humano, próximo e verdadeiro que eu podia, não contive em palavras nem em exemplos, deixando tudo menos técnico e o mais fluido que eu consegui, e pelos feedbacks que recebi até agora, parece que deu muito certo.
Eu agradeço imensamente pelo carinho que recebi depois de tudo isso, eu realmente via com uma vergonha por muito tempo, até que fui desestruturando esse pensamento e comecei a levar tudo como um “mal que levou ao aprendizado”, e hoje, em vez de olhar pra todo caminho que percorri, vejo com um pouco mais de humanização minha própria situação e levei tudo isso como um “trágico acontecimento que fortifica quem eu sou hoje”, um aprendizado, por assim dizer, que eu gostaria de ter evitado com todas as minhas forças, mas aconteceu e eu vou ter que lidar com isso, não podendo mudar o passado.
Eu espero que você, se esteja passando por isso, contorne esse mal estar com toda ajuda que você puder, tu tens todo o meu apoio e carinho (E caso precisar trocar uma ideia, eu estarei à disposição e tentarei reservar um tempo agradável pra gente conversar um pouco).  Eu só te desejo bons momentos, boa companhias, boa sorte e bom cuidado consigo mesmo, se valorize acima de tudo, porque você só vive uma vez e precisa ser o protagonista do seu próprio livro, com sua própria história, e seu próprio carinho com seu interior.
Concluo então com: Não sinta pena, eu sempre odiei ser vítima de pena ou qualquer sentimento parecido. Sobretudo, sinta amor e empatia, que isto vai construir muito mais caminhos nesta trilha chamada vida.
Se cuida, eu espero que toda essa tempestade passe e venham muitos arco-íris no resto da sua vida.
Não esqueça que a única forma de enxergar o teu brilho é no escuro, mas não deixe a vida apagar sua faísca.
   - Key.

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